Postado por paintbox em 09/dez/2021 - Sem Comentários
Em evento inédito no Mato Grosso do Sul, a Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental (ABES), realizou, nesta quarta-feira (8), um seminário em Campo Grande cuja pauta foi a utilização de biossólidos resultantes do tratamento de esgoto em solos cultiváveis, áreas degradadas e áreas de reflorestamento no estado.
De acordo com os organizadores, a ideia foi expor e discutir soluções inteligentes para dar um destino mais nobre ao lodo – rico em nutrientes -, que atualmente acaba indo parar em aterros sanitários em regiões específicas do MS: um estado de economia predominantemente agrícola.
A utilização do lodo para a fertilização e correção de solos cultiváveis já é comum em países da Ásia, Europa e América do Norte. O subproduto do tratamento de esgoto pode conter nutrientes como nitrogênio, potássio e fósforo, cujas fontes são escassas e a extração dispendiosa.
No Brasil, no entanto, barreiras culturais e entraves regulatórios tornam a prática menos aceita, de acordo com especialistas. O Paraná é o único estado em que essa ideia saiu do papel e conta com adeptos do setor agrícola.
Neste cenário, o Brasil se vê dependente da importação de fertilizantes de países como Rússia, China e Estados Unidos, o que acaba pressionando a inflação de produtos agrícolas, tornando-os mais caros. De quebra, os preços ficam vulneráveis a flutuações cambiais.
Além disso, o transporte do lodo rico em nutrientes aos aterros sanitários pode reduzir sua vida útil e demanda a queima de combustíveis fósseis e consequente emissão de gases-estufa, que contribuem para o aquecimento global.
“Poucas empresas no mundo vendem fertilizantes … o biossólido gerado nas ETEs não vai atender toda a demanda para produção de alimentos, mas, por outro lado pode salvar o negócio de vários produtores, até mesmo os pequenos produtores, que veem interesse e possuem capacidade de ter acesso a esse fertilizante”, disse Fernando Magalhães, presidente da ABES-MS.
Referência nacional. O seminário reuniu cientistas, estudiosos, agências reguladoras e representantes concessionárias de tratamento de água e esgoto, e acontece em um momento em que o modelo de universalização do saneamento básico do Mato Grosso do Sul é apontado como referência nacional, por ter se antecipado ao Marco Legal do Saneamento, sancionado em 2020 pelo Governo Federal.
A nova legislação abriu caminho para a criação da empresa Ambiental MS Pantanal – apoiadora do evento – que surgiu da Parceria Público-Privada (PPP) entre a Sanesul e o Grupo Aegea, a maior empresa privada de saneamento do país.
A PPP tem a meta ambiciosa de universalizar o esgotamento sanitário nos 68 municípios em que a PPP já atua até 2031. Com isso, mais 1,7 milhão de sul-mato-grossenses terão acesso aos serviços de saneamento, posicionando o MS como o primeiro estado do país a universalizar o saneamento básico.
Como consequência da universalização, a produção de lodo no estado deve aumentar consideravelmente nos próximos anos, e a PPP vem estudando formas de reduzir o impacto de suas atividades e otimizar os processos. “O evento foi muito importante, pois deixou claro que o lodo é um biossólido que pode ser utilizado de várias formas”, disse Marjuli Moroshigue, gerente de tratamento de água e esgoto da Aegea Centro Oeste. “Essa ideia está alinhada com o objetivo da concessionária de ser cada vez mais sustentável em todas as etapas das Estações de Tratamento de Esgoto”, acrescentou.
O evento contou com a presença do superintendente de Ciência e Tecnologia, Produção e Agricultura Familiar da Semagro, Rogério Beretta e a participação dos palestrantes Carlos Chernicharo, do INTC; Pablo Sezerino, do grupo Wetlands Brasil; Simone Bittencourt, da Sanepar; José Pádua, da FAMASUL; Rodiney de Arruda Mauro, da Embrapa MS; Alex Melotto, da Fundação MS; Gyslaine Bittencourt, da UEMS; Guilherme Cavazzana, da UFMS e Fernando Magalhães, da UCDB. Assista o evento na íntegra clicando aqui.